O SONO E SUAS PATOLOGIAS  

 


O sono é ainda uma entidade desconhecida, que ocupa uma parte significativa da nossa existência, mas ainda não se sabe muito bem para que serve. É, sem dúvida, uma necessidade fisiológica como comer, beber e respirar. É uma característica que nasce conosco.
"O sono é muito complexo. É uma situação que obrigatoriamente tem de existir para sobrevivermos, isso é inquestionável. Agora, os mecanismos que levam ao sono são, na sua maioria, desconhecidos. Mas a sua causa é biológica, faz parte do nosso ciclo biológico", explica a Dr.ª Pilar Vasconcelos, pneumologista da Clínica do Sono.
É uma característica única de cada pessoa, não é igual em todas. Há quem precise dormir mais e há quem precise dormir menos. "Varia de pessoa para pessoa, desde aqueles grandes 'dorminhocos' que dormem mais de 11 horas por dia, até aos que dormem apenas três a quatro horas, mas que se sentem bem", acrescenta Pilar de Vasconcelos.
"O sono não funciona em todas as pessoas da mesma forma. A duração não é muito significativa, a sua eficácia sim", sublinha o Dr. Reis Ferreira, pneumologista do Hospital da Força Aérea e da Clínica do Sono. A duração do sono de cada um depende de vários fatores: "Depende da sua própria estrutura, da mesma forma que umas pessoas têm uma vida mais ativa do que outras. Não há nenhum mecanismo que nos obrigue a dormir. Já nascemos assim. Muitas mães queixam-se de que os seus bebes não dormem quase nada, ou dormem muito. O sono é inato, mas é evidente que o número de horas que se dorme tem a ver com o tipo de vida que se tem", afiança Pilar Vasconcelos.
A idéia de que é o cansaço físico que provoca o sono é completamente falsa. "Quanto muito, o cansaço físico ajudará à indução do sono. O sono é um fenômeno fundamental para a 'arrumação' de todos os processos sensoriais e de automatismos que complementa a atividade de vigília durante o dia. Tal um computador que arruma tudo nas pastinhas certas, o sono 'arruma os pensamentos' para o dia seguinte", explica Reis Ferreira.
As fases do sono
Ao longo da vida passamos por necessidades diferentes de sono. Um bebe dorme praticamente 20 horas por dia, mas vai tendo cada vez mais e maiores períodos de vigília, correspondentes, sobretudo, à alimentação.
"Um período grande de sono na criança é muito importante, fundamental até, para o crescimento, ao ponto de se dizer que crescemos enquanto dormimos, o que ainda não está provado cientificamente", diz Reis Ferreira.
A estrutura do sono é mais ou menos constante em cada pessoa, "embora o número de horas varie. Mas o sono tem uma ciclicidade. A pessoa adormece nas fases 1 ou 2 e depois passa pelas outras fases", explica Pilar Vasconcelos.
O sono é constituído por cinco fases distintas. Ao começarmos a dormir passamos pelas quatro primeiras etapas de sono de ondas lentas, que vai aumentando de profundidade de fase para fase, até chegarmos à fase REM, a dos movimentos oculares rápidos. Durante a noite, num sono de sete, oito horas de duração, este ciclo repete-se quatro a seis vezes.
"A fase REM, denominada de paradoxal, é a mais reparadora. Existe uma grande atividade mental associada a uma hipotonia muscular", esclarece Pilar Vasconcelos. Mas o seu colega Reis Ferreira acrescenta:
"É um sono paradoxal, porque engloba uma capacidade de repouso muito grande, aliada a uma grande atividade cerebral e aos tais movimentos oculares rápidos, debaixo das pálpebras fechados. Se formos privados desta fase de sono, de manhã temos logo uma sensação de cefaléia, e a nossa capacidade de concentração diminui drasticamente, assim como a capacidade de trabalho".
O sono é um "bem" essencial para o ser humano, apesar de se desconhecer a sua causa e o seu propósito. Está provado que se um ratinho for privado dele morre em poucos dias. Aliás, a privação do sono tem sido utilizada como uma forma de tortura que se revela bastante eficaz.
Patologias do sono
O sono tem inúmeras patologias. As mais freqüentes vão desde a ausência de sono à apnéia do sono, que é talvez a mais grave. Pelo menos é a que mais problemas pode trazer. Afeta sobretudo os homens e pensa-se que atinja 1 a 4% da população portuguesa.
"A mais freqüente é, provavelmente, a insônia, que pertence mais ao âmbito da Psiquiatria. O que nos preocupa no sono é sobretudo a vigília. Sabemos que o sono precisa de ser bom para que nos sintamos bem e para que possamos funcionar no local de trabalho, sendo a apnéia a que mais prejudica", adianta Reis Ferreira.
A apnéia do sono é uma perturbação do fluxo respiratório durante o sono que pode durar 10 segundos e é responsável pelo ressonar. As suas características mais evidentes são a sonolência diurrna, as cefaléias matinais e o cansaço.
"As pessoas adormecem sem razão aparente a qualquer hora do dia. Imaginemos que isto acontece ao volante", sublinha o pneumologista. A solução passa por administrar uma pressão positiva contínua nasal, através de um aparelho (BiPAP) com o qual a pessoa dorme.
"Este aparelho permite uma melhoria clínica imediata. Outra hipótese é o recurso à cirurgia que permita reparar a obstrução respiratória. De qualquer das formas aconselhamos aos doentes uma redução de peso", conclui Pilar Vasconcelos.
A responsabilidade editorial e científica desta informação é da Revista "ExKlusiva".